Mesmo sendo de fundamental importância para fluidez da malha viária de Americana, a estrutura dos viadutos Centenário e Prefeito João Baptista de Oliveira Romano expõe a falta de atenção do poder público na manutenção desses espaços. A presença de rachaduras, infiltrações e até mesmo pequenas árvores crescendo nos vãos dessas estruturas escancaram o estado de abandono.
Especialistas defendem que a falta de reforma pode comprometer a estrutura e causar prejuízos a curto, médio e longo prazo à população. “As árvores estão brotando na junta de dilatação, que é um recurso importante para o funcionamento correto desse tipo de estrutura”, ressalta Paulo Helene, engenheiro civil da USP (Universidade de São Paulo) especializado em patologias de construções. “O acúmulo de sujeira, partículas do ar e umidade são propícios para o nascimento de arbustos. Nas proporções atuais, fica claro que nenhuma manutenção é feita há anos”.
Segundo Helene, as normas internacionais sugerem que a inspeção e a manutenção em viadutos sejam realizadas a cada dois ou cinco anos. No Centenário, no entanto, o prazo deveria ser ainda mais reduzido, já que a proximidade com Ribeirão Quilombo aumenta a umidade no concreto. “Estruturas desse tipo não desabam facilmente, mas pedaços de concretos podem cair e causar prejuízos”.
O mau estado de conservação é visto também pelos sinais de infiltração. Em alguns pontos, a corrosão é salientada por manchas escuras e goteiras constantes. “A cor escura significa que o local tem baixa oxigenação, característica de áreas úmidas. Como o rio está poluído, a evaporação de gases de enxofre e produtos ácidos é ainda mais agressiva para o concreto, e mereceria ainda mais atenção”, explica Helene.
PINTURA. A tinta utilizada para a pintura dos viadutos em Americana também é considerada inadequada por especialistas. “A (tinta) látex forma uma película, assim como uma maquiagem, por cima do concreto, que esconde as falhas na estrutura”, define. Para atender às exigências técnicas, a pintura deveria utilizar tintas com cal. “Com esse tipo de substância, o viaduto ficaria com uma cor acinzentada e as fissuras apareceriam quando há indícios de corrosões. Em Americana, as rachaduras estão visíveis porque a pintura está gasta”, ressalta.
No viaduto Prefeito João Baptista de Oliveira Romano, que liga os bairros Werner Plaas e Nova Americana, o desgaste atinge todo o trajeto. Em anos anteriores, os anúncios de manutenção nos viadutos da cidade foram limitados à instalação de luminárias e limpeza no asfalto.
Árvores são consideradas agressivas
As espécies que brotaram no concreto também evidenciam a urgência para o início de reformas nos equipamentos. De acordo com Dionete Santin, engenheira agrônoma da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e doutorada em biologia vegetal, as árvores são do tipo figueira-lacerdinha, figueira brava e leucena.
“As plantas são maléficas porque são consideradas agressivas. Para se desenvolver, as raízes penetram pelas fendas e forçam o concreto, especialmente as que não contam com flores”, esclarece Dionete. “O crescimento das árvores é um indicativo de que a Prefeitura de Americana precisa fazer a manutenção na cidade de Americana e retirar as plantas para evitar mais problemas”, resume.
Os trabalhos para remoção das árvores, no entanto, devem priorizar a retirada das raízes. “Não adianta cortar os galhos porque as árvores vão crescer novamente. É preciso fazer um trabalho para verificar até onde as raízes penetraram para retirá-las por completo”, acrescenta Dionete.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura afirmou que “a equipe de engenharia da Secretaria de Obras Públicas está estudando as reais necessidades de reforma dos dois viadutos”.
Fonte: Jornal O Liberal