A morte do arquiteto Oscar Niemeyer na noite da última quarta-feira, aos 104 anos, provocou uma grande comoção nacional, com políticos, amigos, arquitetos e grande parte da sociedade brasileira rendendo homenagens à genialidade de um dos maiores nomes da arquitetura do século 20.
Mesmo já com idade avançada, o “arquiteto das curvas”, como era conhecido por muitos de seus admiradores, nunca deixou de trabalhar e o resultado de tanto empenho são mais de 500 obras erguidas em todo o mundo, fora as que nunca saíram do papel, como o novo Paço Municipal de Americana, projetado na década de 1990, durante a administração do então prefeito Waldemar Tebaldi, morto em 2006.
Engavetado há anos em razão dos altos custos, o projeto deve ser retomado, segundo prometeu na manhã de ontem o prefeito Diego De Nadai (PSDB). “Esse é um projeto que precisa estar em pauta agora no segundo mandato. Chegamos a entrar em contato com o escritório dele nos últimos meses para retomar as conversações”, afirma o chefe do Executivo.
Ainda segundo o prefeito, além do óbvio fato de poder contar com uma obra assinada por Niemeyer, a nova prefeitura seria uma maneira do poder público economizar. “Hoje pagamos muitos aluguéis para atender a necessidade das unidades da prefeitura, e o novo paço concentraria isso em um só lugar”, analisa Diego.
O projeto do que ficou conhecido como “Novo Paço Municipal” foi um pedido do ex-prefeito Waldemar Tebaldi, que era amigo de Niemeyer. O primeiro esboço foi entregue à cidade em 1997, e nos anos seguintes a equipe do arquiteto desenvolveu a parte estrutural do prédio.
A ideia inicial de Tebaldi era construir o prédio no terreno onde hoje está localizado o CCL (Centro de Cultura e Lazer) Poeta António Zoppi. Ousado, o desenho de Niemeyer inclui, além da Prefeitura de Americana, as dependências da Câmara Municipal de Americana, num prédio retangular de cinco andares erguido sobre vãos de 25 metros de distância de uma pilastra à outra. Toda a fachada possui vidraças, e um detalhe chama a atenção: o velho simpatizante do partido comunista fez uma homenagem ao movimento MST (Movimento Sem Terra).
“Todos os seus conceitos estão nesse projeto, formando um conjunto harmônico. Mas, além disso, ele agregou ideias de valor turístico e cultural que outras edificações, mesmo as mais famosas, não tinham”, ressalta o arquiteto Victor Chinaglia, que na época trabalhava para a Prefeitura e intermediou todo o projeto junto à equipe de Niemeyer, vindo a se tornar amigo do centenário criador de Brasília.
“Ele era uma pessoa humanista e firme ideologicamente, além de constantemente preocupado com o Brasil. E como profissional tinha uma agilidade de pensamento que impressionava”, lembra Chinaglia, que na tarde de ontem estava em Brasília, acompanhando as homenagens a Niemeyer.
REALIDADE. Como o projeto de construção do CCL provou-se mais “dentro da realidade” para a cidade, em 2006 o ex-prefeito Erich Hetlz Junior resolveu que o terreno para o projeto deveria ser mudado, já que o CCL estava prestes a ter suas obras iniciadas. Então o Poder Executivo sugeriu um novo local: um terreno de 58 mil metros quadrados, vizinho à rodoviária. Foi formada uma comissão encabeçada na época pelo ex-secretário de governo, Orestes Camargo Neves, que discutiu junto à equipe de Niemeyer as mudanças necessárias para o projeto no novo terreno.
A simples mudança de terreno elevaria os custos da construção em vários milhões de reais, o que deixou a continuidade da obra inviável, segundo explicações dadas por setores da Prefeitura nos últimos anos. Mas nada disso convence a Chinaglia. “Na verdade o que aconteceu foi um problema de ordem política. O terreno já era da prefeitura e o projeto está pronto, então ele não é tão caro. Eu apostaria mais numa falta de visão dos nossos governantes”, lamenta o arquiteto.
Profissionais locais lamentam morte de arquiteto
“Um dos dias que mais me emocionei foi quando estava andando por um shopping e em uma prateleira de livraria vi um livro meu lado de uma obra sobre o grande gênio da arquitetura, Oscar Niemeyer. Fiquei muito abalado quando soube de sua morte, mesmo sabendo que pela sua idade avançada isso era algo inevitável”, Aquiles Nícolas Kilares, arquiteto.
“Niemeyer foi um gênio em sua área, mas representou muito mais para o Brasil, elevando o País a um patamar de competência, fortalecendo a imagem de eficiência e abrindo portas para os negócios internacionais. Ele emprestou sua marca para tornar o País referência em arte e arquitetura, e isso certamente contribuiu para nos trazer visibilidade no mundo, aumentando as nossas oportunidades, inclusive comerciais”, Olavo Furtado, professor de Relações Internacionais.
Fonte: Jornal O Liberal